Pé do ninho dos anjos umha pena
achei, perdida num bater de asas.
Prendim-na no meu peito com um broche,
e ando com esse enfeite pola terra.
As gentes que me vem olham-me crendo
que familiar de céu som. Algo como
sacristam de um convento de querubes
ou potestades.
Criatura som de lama. A minha fronte
nunca a abóbada azul quebrou. No entanto,
do Edem na vertical um dia estivem.
Tal é a graça.
Outros de umha fivela nom disponhem
para prender no peito um dom divino.
Ourives fum. Nom todos som ourives.
Muitos penas acharom. Se nom sabem
o broche fabricar, leva-as o vento.
Ricardo Carballo Calero: Reticências (1986-1989) (1990)
Versións:
Dalama: Da Lama; Musicando Carvalho Calero (VVAA)*; 2020; Pista 52
*[Concurso musical organizado pola AGAL (Associaçom Galega da Língua) en colaboración coa CRTVG e a Consellería de Cultura da Xunta de Galicia, para conmemorar o ano das Letras Galegas 2020, adicado a Ricardo Carballo Calero.]
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